A campanha It Gets Better (n.t. Vai Melhorar) faz parte do ‘Projeto Trevor‘, uma organização sem fins lucrativos voltada para a prevenção de suicídios de adolescentes não-heterossexuais (gays, lésbicas, transgêneros, ou bissexuais).
E, finalmente, a campanha chega ao campus da Brigham Young University, universidade privada mantida pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Pra quem não se sente confortável com o áudio em inglês do vídeo, segue uma sinopse, além de contexto, e comentário.
O “projeto” foi inspirado pelo filme vencedor de Oscar® ‘Trevor’ sobre um rapaz adolescente que descobre que é gay e que, ao sentir-se oprimido, ridicularizado, e excluído por toda sociedade ao seu redor por causa de sua orientação sexual, contempla a opção de suicídio.
Os realizadores do filme, pouco antes de seu lançamento, deram-se conta que provavelmente muitos adolescentes passam pelos mesmos problemas que o personagem-título, e decidiram publicar junto com o filme orientações de como buscar ajuda. Pasmos por não achar nenhuma instituição que prestasse assistências para jovens assim afligidos, fundaram a ONG.
A campanha foi fundada pelo colunista Dan Savage e seu marido Terry Miller há 2 anos, como resposta a um súbito aumento de suicídios entre adolescentes glbt por causa de um aumento em bullying de minorias sexuais. Ela consistia em gays e lésbicas adultos, muitas celebridades e muito mais anônimos, prestando seus testemunhos que os conflitos e os sofrimentos da adolescência para jovens não heterossexuais melhoram na fase adulta, onde poderão encontrar pares e pessoas que não são intolerantes e que respeitam outras pessoas, independente de suas orientações sexuais. A campanha já conta com mais de 30 mil vídeos e 40 milhões de visualizações.
O vídeo da BYU não parece ser vinculado oficialmente a nenhum dos dois projetos acima e foi produzido pela BYU-USGA (Grupo Entendendo Atração pelo Mesmo Sexo), um grupo não oficial de estudantes, professores, e simpatizantes devotado a melhorar o diálogo na comunidade da BYU sobre “atração pelo mesmo gênero.” [1]
Apesar de queixas e pressões externas, o grupo recentemente promoveu uma mesa redonda aberta para todos os estudantes da BYU para debater, com 3 alunos homossexuais e 1 bissexual, sobre o impacto das políticas institucionais sobre suas vidas, e suas interações pessoais com demais alunos. A reunião foi um tremendo sucesso, com um auditório lotado de pessoas em pé, nas portas, escadas, e corredores.
Deste grupo, e desses diálogos, nasceu a campanha de vídeo.
O vídeo apresenta o testemunho de vários estudantes da BYU que são gays e lésbicas, contando suas estórias pessoais desde a infância ou adolescência, quando descobriram suas orientações diferentes dos demais pares. Contam sobre o preconceito e o ódio encontrado no campus pelos outros estudantes Mórmons, e das dificuldades em achar valor pessoal dentro de uma religião que lhes ensinava que eram pecadores e espiritualmente pobres por sentirem o que sentem. Contam sobre seus testemunhos de fé na Igreja que, por palavra e por atitudes, os exclui, e como reagiram ou reagem seus amigos e seus familiares dentro da comunidade Mórmon.
Alguns dos testemunhos inspiram esperança, enquanto outros são simplesmente tristes. Crianças, todas elas, e sofrendo o fardo de serem rejeitadas pelas pessoas e instituições que as deveriam nutrir e apoiar. (O vídeo anuncia uma estatística preocupante: 74% dos alunos glbt da BYU contemplam suicídio, 24% já tentaram.)
Mas a mensagem final ainda é: vai melhorar!
Há amigos e estudantes e professores Mórmons que apoiam os jovens SUD que nasceram glbt. Há SUD que, por exemplo, se negam a seguir os ditâmes dos líderes da Igreja e votam a favor da legalização do casamento homossexual. Hoje, já há alguns SUD que até defendem a mudança das doutrinas da Igreja para permitir casamento homossexual no templo!
Certamente, a Igreja esta muito longe de chegar nesse ponto. Mas, se considerarmos a evolução histórica, muito já mudou! Há 40 ou 50 anos atrás, a Igreja incentivava “tratamento” (tortura) com eletrochoque. Há 30 anos atrás, a Igreja defendia violência física contra homossexuais e um Apóstolo declarou que a sua causa é simples egoismo. Há 10 ou 20 anos atrás, a Igreja incentivava psicoterapia de “mudança de orientação” e que homossexualismo é “curável”. Há 17 anos atrás, a Igreja publicou um documento com status quase canônico com o óbvio propósito de justificar e incrementar oposição ao casamento homossexual legalizado, e se lançou em várias campanhas políticas seguidas ao custo de centenas de milhares de dólares.
E, nos últimos 4 ou 5 anos, temos visto a liderança mudar a retórica para deixar de enfatizar a homossexualidade como pecado que distorce relações amorosas (e passível de excomunhão) para enfatizar apenas a “atividade” homossexual (i.e., você pode ser gay desde que celibato), Apóstolos admitindo que homossexualidade é inato, congênito, e biológico ao invés de “escolha”, e a própria BYU deixando de expulsar jovens por serem glbt (desde que celibatos). As progressivas mudanças, embora lentas, são inegáveis.
Vai melhorar.
Pouco a pouco, alguns SUD oferecem motivos para sentir orgulho da tradição Mórmon nessa questão.
Vai melhorar.
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[1] O têrmo “atração pelo mesmo gênero” é uma eufemismo Mórmon muito popular entre a liderança da Igreja para evitar os têrmos culturais comumente aceitos — e médica e cientificamente corretos — de homossexualidade, bissexualidade, e transgênero. Esta tática é muito criticada por tentar evitar o fato que tais orientações são existenciais (ao invés de opcionais ou estilos-de-vida) e biológicas (ao invés de culturais, ou pior, espirituais). Não obstante, mesmo o eufemismo desumanizador é um progresso desde a época em que a liderança negava a existência dessa condição humana e apenas denunciava “a prática pecaminosa”.
Leia também Mórmons Que Amam Os Gays e mormonsandgays.org
Pingback: Mórmons Que Amam Os Gays | Vozes Mórmons
O vídeo com a legenda em PORTUGUÊS foi postado agora a pouco por um conhecido que tem blog falando do Mitt Romney!
Excelente! Muito obrigado! Podemos esperar legendas para o outro vídeo, também?! 😉
Abraços.
Aqui está o outro, com erros de sincronização e tradução/português, mas corrigiremos até amanhã. Não tá de todo mal, eles entenderão!
Abraços!
Após um longo processo investigativo, acabo de descobrir que as legendas só aparecem após eu apertar em CC na barra inferior ;]
Repostado!